Star Trek: Sem Fronteiras

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Terceiro filme não arrisca, mas é bem resolvido em suas ideias.

Depois de dois filmes que ficavam na fronteira entre o reboot e a sequência – preocupados até demais em reverenciar a franquia – dirigidos por J.J. Abrams, um terceiro surge com a ação como seu motor explícito. Sem Fronteiras não usa de grandes mistérios para desenrolar sua trama. Compensando o enredamento de Além da Escuridão, Pegg e os outros roteiristas optam pelo caráter episódico e por diálogos lacônicos na aventura. Nas mãos de Justin Lin, agora piloto de possantes e de naves espaciais, o arroz com feijão do blockbuster encontra sua harmonia.

Enquanto o prato do dia é o desafio e o combate ao sistema, em um mar repleto de Jogos Vorazes e outras chamadas distopias, Star Trek inverte a lógica para afirmar a força da união. A sociedade é perfeita e funcional, introduz Lin num belo rodopiar da câmera durante a apresentação da estação espacial Yorktown. Por exemplo, as discussões de Abrams em seu segundo filme da série eram muito latentes nas ações do personagem de Benedict Cumberbatch. O vilão da vez, vivido por Idris Elba sob uma maquiagem assombrosa, no entanto, só vai realmente externar como contexto no clímax o que era um dos trunfos do filme anterior. No meio da ação frenética, o terrorismo é menos um ponto de inflexão do que mais uma ameaça isolada a ser resolvida pelos heróis.

Durante o cumprimento de uma missão, os heróis adentram uma nébula não mapeada e caem em uma armadilha de Krall (Elba) e acabam sendo separados por diferentes partes do planeta Altamid. Em duplas, formam-se os núcleos Kirk (Pine) e Chekov (Yelchin); Spock (Quinto) e McCoy (Urban); Scotty (Pegg) e a novata Jaylah (Boutella); e Sulu (Cho) com Uhura (Saldana). Mesmo para quem não tem ideia da afetividade construída entre os protagonistas durante todos esses 50 anos de franquia – ou só está acostumado com a dinâmica do id, ego e superego de McCoy, Kirk e Spock -, as interações fluem.

O movimento mais interessante do longa talvez seja a maneira como desenvolve a química dos personagens. Não que eles precisem ou demonstrem grandes renovações em seus caráteres, mas, depois da bomba Esquadrão Suicida, que apostou pela construção dos laços afetivos dos seus personagens insubstanciais através da mera presença na tela, um pouco de intimidade e humor reais são um alívio. Reproduzindo um caráter televisivo procedural, o filme não estabelece fronteiras para seu público. Apesar dos trekkers levarem a melhor no final das contas, nenhum elemento do roteiro gera obstáculos de entendimento. Isso funciona, principalmente, pela fragmentação da tripulação da Enterprise pelo ambiente.

Da mesma maneira como enxerga a excentricidade em Velozes &Furiosos, Lin trabalha aqui as sequências de ação com poucos respiros, e que se encaixa na trilha empolgada de Giacchino. Os efeitos práticos empregam naturalidade quando a computação gráfica fica mais carregada. E, apesar do balanço de cores parecer um pouco mal trabalhado em algumas situações mais escuras, a fotografia ganha destaque por ressaltar as diversas cores dos figurinos.

Sem Fronteiras é um filme sem mistérios. Pegg e Lin foram as apostas certas para adicionar um frescor à série e fazer desse o mais prazeroso dos últimos filmes. Porém, num cenário em que os próprios blockbusters são postos em xeque, esse filme indica um caminho bem reto. A viagem é mais rápida, o trem sacoleja menos e os campos são sempre verdes. Falta na paisagem flores para ser contempladas.

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